Fonte: Programa Palavra Viva – Prof. Carlos Martendal
Que a paz de Jesus reine em nossos corações e a Mãe Santíssima nos leve nas dobras do seu manto,
em mais este dia que a bondade do Pai nos concede.
Que mês rico, o de junho! Nele celebramos as solenidades da Santíssima Trindade, de Corpus Christi,
da Natividade de São João Batista e de São Pedro e São Paulo, além do festejado e querido Santo
Antônio. Nesta semana, por excelência, as tocantes solenidade do Sagrado Coração de Jesus, nesta
sexta-feira, dia 19, e a memória do Imaculado Coração de Maria, no sábado.
No capítulo 61, versículo primeiro de seu livro, o profeta Isaías escreve: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu, e enviou-me para sarar os contritos de coração”, texto repetido por São Lucas no capítulo quarto, versículo 18, do seu Evangelho. Sarar os contritos de coração, os de coração despedaçado, de coração quebrantado, aflito, os corações doloridos.
“Ninguém mais e melhor que o Coração de Jesus para remediar os males de nosso maltratado coração. Ele veio para consolar os tristes, ‘para anunciar aos pobres o Evangelho’, a Boa Nova, que é o remédio para todos os males” (veja “O Evangelho meditado para cada dia do ano”, Pe. Alfonso Milagro, Editora Ave-Maria, página 41).
Dom Murilo Krieger, hoje Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia, numa reflexão para o jornal de sua Arquidiocese em junho de 2015, lembrou Padre Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, à qual pertence, juntamente com nosso querido Arcebispo Dom Wilson. Em seu testamento espiritual, Pe. Dehon escreveu: “Deixo-vos o mais maravilhoso dos tesouros: o Coração de Jesus”.
Dom Murilo acrescentou: “Esse maravilhoso tesouro não é propriedade de uma Congregação ou de um Movimento, mas um dom para todos; um dom que cada pessoa, tendo acolhido e feito seu, pode e deve repartir com os irmãos.
Se todos têm direito de contemplar esse Coração ‘que tanto amou os homens’ (cf. Ef 2,4), um grupo de pessoas, contudo, é especialmente convidado a isso, os aflitos, os que sofrem e os que não se sentem amados. Escutemos as palavras de Jesus: ‘Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração’ (Mt 11,28-30).
Neste mês de junho, consagrado ao Coração de Jesus, debrucemo-nos sobre o convite de Jesus e entreguemos-lhe o que cada um de nós tem de mais precioso: o próprio coração”!
São Pedro Canísio, religioso jesuíta do século XVI, no dia de sua profissão religiosa, na Basílica de São Pedro, rezou assim: “Vós, meu Salvador, por assim dizer, abristes o Coração de vosso santíssimo Corpo. Tive a impressão de ver seu interior. Vós me mandastes beber dessa fonte. De minha parte, experimentei grande desejo que corressem de lá para minha alma ondas de fé, esperança e caridade. Estava sedento de pobreza, castidade e obediência. Pedi que me purificasses da cabeça aos pés e me revestisses de paz, de amor e perseverança”.
Mais de quinhentos anos depois, outro jesuíta, o Papa Francisco, ensinou que “o coração tem necessidade de partir para poder permanecer, de mudar para ser fiel” (Discurso de Natal à Cúria Romana em 21 de dezembro de 2019, in L’Osservatore Romano de 31.12.19, página 4). Quem bebe do Coração de Jesus não pode se acomodar, mas tem que sair de si mesmo para ir ao encontro dos irmãos: foi o que o Senhor fez, e ninguém consegue permanecer fiel se continuamente não se dessedentar nessa fonte que nunca se exaure.
São Bernardino de Sena, que morreu em 1444, aconselha: “Dirijamo-nos, pois, ao Coração de Jesus, Coração profundo, Coração secreto que nada esquece, Coração que tudo sabe, Coração que ama. Coração que se consome de amor. A violência do amor abriu uma porta, nós entramos…”
À multidão que acorria para ouvir suas palavras, dizia: “Este nome de Jesus é o breviário dos santos breviários; traze-o contigo, ou escrito ou figurado, e nada de mau te poderá acontecer.
O Coração de Jesus é refúgio dos penitentes, estandarte dos que combatem, medicina dos enfermos, conforto dos que sofrem, honra dos que creem, fulgor dos que evangelizam, mérito dos que trabalham e auxílio dos inconstantes; suspiro dos que meditam, atendimento dos que rezam, deleite dos que triunfam” (in “Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente”, Paulinas,página 287).
É tão bonito ler e ouvir os santos! Continuemos com eles, agora dando a vez à querida Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Em 1894, a pedido da Irmã São Vicente de Paulo, ela compôs o poema “O átomo do Sagrado Coração”. Teresinha cantará ao Sagrado Coração, tão amado por sua Irmã na Eucaristia, os sentimentos desse seu coração que se vê uma minúscula partícula, um ‘átomo’ diante do mistério escondido no tabernáculo.
Prestemos atenção às expressões ternas e amorosas: “Meu único amor, Oh, meu doce Amigo!, seu sorriso, seu olhar, sua voz”, gestos, sinais de um Deus amante, que busca manifestar o amor à sua criatura:
“Teu átomo, Coração divino, / Sua vida te dá. / Eis sua paz, sua alegria: / Encantar-te, Senhor.
Estou à tua porta, / De dia e de noite. / Tua graça me conduz, / Viva teu amor!…
Ohl Esconde tua glória, / Faz-me um doce ninho / No santo cibório, / De dia e de noite.
Tua asa, oh, maravilha! / Se faz meu abrigo, / Quando me desperto / Jesus, me sorris…
Teu olhar me inflama, / Meu único amor; / Consome minha alma, / Pra sempre, Jesus. Cheia de ternura, / Tua voz me extasia; / Teu coração me prende / Oh, meu doce Amigo!…
Tua mão me alivia / E me serve de apoio; / Tu dás a coragem / Ao coração que geme.
De todo o cansaço / Consola o meu coração, / E para o pródigo, / Sê Bom Pastor.
Oh! Que doce espetáculo, / Pródigo de amor! / No Tabernáculo, / Permaneço para sempre.
Desprendida do mundo / E sem nenhum apoio, / Tua graça me inunda, / Meu único Amigo!…
Oh! Que doce martírio! / Eu ardo de amor; / Por ti, eu suspiro, / Jesus, todos os dias!...” (“Obras
Completas de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face”, Paulus, páginas 541-543).
Deixemos agora o Sagrado Coração de Jesus para, com Maria, a Mãe, levá-lo à sepultura. Santo Afonso Maria de Ligório, refletindo sobre esta última das sete dores da Santíssima Virgem, escreve: “Levam o Sagrado Corpo à sepultura. Caminha junto a Mãe dolorosa. Ter-se-ia a Senhora de boa mente sepultado viva com o Filho, como reza uma revelação sua a Santa Brígida. Mas, não sendo esta a divina vontade, acompanhou resignada o sacrossanto corpo de Jesus ao sepulcro.
No momento de fechá-lo com a pedra, voltaram-se os discípulos para Maria com as palavras: Eia, Senhora, vai ser fechado o túmulo. Ânimo! Contemplai vosso Filho pela última vez e dai-lhe um derradeiro adeus!
Assim, pois, ó dileto Filho – teria então dito talvez a Senhora -, assim, pois, não mais te tornarei a ver? Recebe com meu último olhar o último adeus de tua aflita Mãe; recebe meu coração, que deixo contigo no sepulcro!
A pobre Virgem falou a Santa Brígida: Na sepultura de meu Filho estavam sepultados dois corações. Finalmente, os discípulos tomaram a pedra e fecharam no túmulo o corpo de Jesus. Maria deixa seu coração sepultado com Jesus, porque lhe é Jesus seu único tesouro. ‘Porque onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração’ (Lc 12,34).
Antes de se afastar do sepulcro, Maria bendisse aquela pedra sagrada, como refere Boaventura Baduário: ‘Ó pedra feliz, que agora encerras Aquele que tive nove meses no seio, eu te bendigo e invejo. Deixo-te guardando este meu Filho que é todo o meu bem, todo o meu amor’.
E Santo Afonso de Ligório conclui assim, tão bonito, tão emocionante, até: “Ó minha Senhora, vós roubais os corações dos homens pela vossa suavidade. Pois então já não roubastes o meu? Ó arrebatadora dos corações, quando me restituireis o meu? Não; guardai-o convosco e colocai-o, juntamente com o vosso, no lado aberto de vosso Filho.” (“Glórias de Maria”, Editora Santuário, cf. páginas 404-408).
Vamos agora a São Luís Maria Grignion de Montfort, no célebre “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem” (Editora Vozes). Escreve este santo francês que faleceu em 1716, com apenas 43 anos de idade:
“Maria é a Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, conforme a palavra: ‘O reino de Deus está no meio de vós’ (Lc 17,21), o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, isto é, em sua alma, e é principalmente nas almas que ela é mais glorificada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la com os santos a Rainha dos corações” (página 42).
Numa publicação da Associação Católica Nossa Senhora de Fátima, de São Paulo, tem-se um bonito texto sobre a devoção ao Imaculado Coração de Maria, ‘uma devoção querida por Deus’. Lemos: “São Lucas registra no Evangelho: ‘E sua Mãe conservava todas essas coisas em seu coração” (Lc 2,19.51). Ele nos apresenta seu coração como o relicário no qual Nossa Senhora guardava as palavras de seu Filho.
Desde a época de São Bernardo [século XII], o culto ao Coração de Maria intensificou-se, impulsionado por numerosos santos. O grande florescimento ocorreu no século XVII com São João Eudes, o grande apóstolo da dupla devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. Oito dias apenas antes de falecer, acabou a sua última obra, ‘O Coração admirável da
Santíssima Mãe de Deus’, com mais de mil páginas.
Esse desenvolvimento histórico culminou nas aparições de Fátima, em 1917, quando a própria Virgem comunicou aos pastorinhos que Deus queria estabelecer a devoção ao seu Imaculado Coração e, por meio dela, salvar muitas almas.
A simbologia católica representa o Coração de Maria com a cor vermelha, como o Sagrado Coração de Jesus, circundado por uma coroa de espinhos. Dele brota uma chama. É o amor ardente de Nossa Senhora a Deus.
Santa Jacinta Marto, a pastorinha de Fátima canonizada pelo Papa Francisco em 13 de maio de 2017 juntamente com seu irmão Francisco, morreu com apenas nove anos. Algum tempo antes de ir para o hospital [em Lisboa], onde morreria, afirmou à sua prima Lúci“Já me falta pouco para ir para o Céu. Tu ficas cá para dizeres que Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Quando for para dizeres isso, não te escondas. Dize a toda a gente que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria; que lhas peçam a ela; que o Coração de Jesus quer que, ao seu lado, se venere o Coração Imaculado de Maria; que peçam a paz ao Imaculado Coração de Maria; que Deus lha entregou a ela. Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!
Um dia, conta Irmã Lúcia, deram-me uma estampa do Coração de Jesus, bastante bonita para aquilo que os homens conseguem fazer. Levei-a à Jacinta:
– Queres este santinho?
Pegou nele, olhou-o com atenção e disse:
– É tão feio! Não se parece nada com Nosso Senhor, que é tão bonito! Mas quero; sempre é Ele.
E trazia-o sempre com ela. De noite, e na doença, tinha-o debaixo do travesseiro, até que se rompeu.
Beijava-o com frequência e dizia:
– Beijo-o no Coração, que é do que mais gosto. Quem me dera [ter] também um [do] Coração de
Maria! Não tens nenhum? Gostava de ter os dois juntos.
Em outra ocasião, continua Irmã Lúcia, levei-lhe uma estampa que tinha o sagrado cálice com a
hóstia. Pegou nela, beijou-a e, radiante de alegria, dizia:
– É Jesus escondido! Gosto tanto d’Ele! Quem me dera recebê-lo na igreja! No Céu não se comunga?
Se lá se comungar, eu comungo todos os dias. Se o Anjo fosse ao hospital a levar-me outra vez a
Sagrada Comunhão! Que contente que eu ficava!
Quando, às vezes, voltava da igreja e entrava em sua casa, perguntava-me, confidencia Irmã Lúcia:
– Comungaste?
Se lhe dizia que sim:
– Chega-te aqui bem junto de mim, que tens em teu coração a Jesus escondido.” (Mons. João
Sconamiglio Clá Dias, “Imaculado Coração de Maria, uma devoção querida por Deus”, diversas
páginas).
Na segunda aparição em Fátima, no dia 13 de junho de 1917, Nossa Senhora mostrou aos três pastorinhos a importância da devoção ao seu Imaculado Coração, dizendo-lhes:
“Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação; serão queridas por Deus estas almas, como flores postas por mim a adornar o seu trono. (…) O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.
Não temos tempo de falar mas detidamente da devoção reparadora dos cinco primeiros sábados, onde Nossa Senhora pede que confessemos, comunguemos, rezemos um Terço e lhe façamos companhia por 15 minutos meditando nos mistérios do Rosário. Se fizermos isso, nos cinco primeiros sábados seguidos de cada mês, para desagravar seu Imaculado Coração, ela promete nos
assistir na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação da nossa alma. Que grande e bela promessa!