A Campanha da Fraternidade 2023 tem como tema “Fraternidade e fome” e lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Nos dias 2 e 3 de abril, Domingo de Ramos, haverá a Coleta Nacional de Solidariedade.
Pela terceira vez a fome é tratada pela Igreja no Brasil, na Campanha da Fraternidade. A primeira foi em 1975, com o tema ‘Fraternidade é repartir’ e o lema Repartir o pão’, no clima do Ano Eucarístico que precedeu o Congresso Eucarístico Nacional de Manaus, que trazia o mesmo tema e lema e desejava intensificar a vivência da Eucaristia em nosso povo. A segunda foi em 1985, outro Ano Eucarístico, desta vez em preparação para o Congresso Eucarístico de Aparecida, com o lema ‘Pão para quem tem fome’.
Diante do agravamento da segurança alimentar e nutricional no contexto nacional, o tema escolhido relaciona-se com o 18º Congresso Eucarístico Nacional, que foi realizado em Recife, entre os 11 a 15 de novembro de 2022, sob o tema ‘Pão em todas as mesas’. O Brasil voltou ao mapa da fome em 2015, um ano depois de ter saído segundo levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, lançado em 2022, atualmente 33,1 milhões de brasileiros não têm garantida de sua alimentação.
Assim, a Campanha da Fraternidade 2023 está sendo articulada pela Igreja no Brasil como forma de contribuir no enfrentamento do flagelo da fome. O lema da CF 2023 segue a ordem de Jesus aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Afinal, ninguém deve sofrer com a fome quando realmente vivemos como irmãos e irmãs. Portanto, a campanha busca incentivar as comunidades a assumirem, a exemplo de Jesus, suas responsabilidades ante a situação da fome que persiste no Brasil.
Em termos metodológicos, a Insegurança Alimentar (IA) é definida a partir de três parâmetros distintos:
INSEGURANÇA ALIMENTAR GRAVE: existe quando as pessoas de uma família efetivamente não tiveram o que comer ou somente fizeram uma refeição ao dia. Esta é uma situação clara em que a fome está instalada naquele domicilio, uma vez que as pessoas não conseguem comprar alimentos por falta de dinheiro.
INSEGURANÇA ALIMENTAR MODERADA: ocorre quando as pessoas até podem comer algum alimento, mas a dieta alimentar é insuficiente. Esta é uma situação em que há uma ruptura com o padrão de alimentação anterior.
INSEGURANÇA ALIMENTAR LEVE: aparece quando as famílias informam ter incerteza sobre o acesso aos alimentos no futuro, ou seja, que o estoque de alimentos acabe antes que outros sejam adquiridos, seja por falta de renda, seja por falta de acesso ao mercado alimentar.
A fome em Santa Catarina
Particularmente no caso de Santa Catarina, uma pesquisa da Rede de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) revelou que 59,4% dos domicílios estavam em situação de Segurança Alimentar (SA), enquanto 28,4% estavam em situação de IA Leve; 7,6% em situação de IA Moderada e 4,6% com IA Grave.
Em termos absolutos, esses percentuais correspondiam a 2.091 mil pessoas com IA Leve; 558 mil pessoas com IA Moderada e 338 mil pessoas com IA Grave. Em termos metodológicos, a pesquisa recomenda que as informações de cada unidade da federação sejam analisadas agrupando-se as formas mais severas de IA (Moderada + Grave) em apenas uma categoria de análise, o que significa juntar os domicílios com quantidade alimentar insuficiente (dieta alimentar insuficiente) com aqueles domicílios que claramente já se encontram em estado de fome. Por esse procedimento, no estado de Santa Catarina existiam 896 mil pessoas em estado de fome.
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