BOGOTÁ, 07 Set. 17 / 02:00 pm (ACI).- Ao chegar à Nunciatura Apostólica em Bogotá, em seu primeiro dia na Colômbia, o Papa Francisco foi recebido com músicas e danças preparadas por crianças e jovens que deixaram as ruas e os vícios e que são atendidos pelo Instituto Distrital para a Proteção das Crianças e da Juventude (IDIPRON). Entre os membros da instituição que participaram da cerimônia de boas-vindas ao Papa estava José Bonilla, um jovem que deixou as drogas e a delinquência há mais de uma década e meia.
O IDIPRON surgiu como uma iniciativa do falecido sacerdote salesiano Javier de Nicolò, nascido na Itália em 1928, que viveu na Colômbia desde 1949. O instituto, atualmente sob a liderança do Pe. Wilfredo Grajales, com o apoio da Câmara Municipal de Bogotá, atende e educa crianças ??e jovens em situação vulnerável.
José, que usa o nome artístico de “338 Bonilla”, se descreve como “um cantor de rap graças a Cristo, a Deus, ao Papa Francisco e ao nosso criador, Javier de Nicolò”.
“Há 16 anos saí das ruas, saí do vício das drogas”, recorda José, em declarações ao Grupo ACI e destaca a ajuda do atual prefeito de Bogotá, Enrique Pelañosa, que também governava o município de Bogotá “quando destruíram ‘El Cartucho’”.
“El Cartucho” foi uma das áreas de mais delinquência e tráfico de drogas em Bogotá há algumas décadas e estava localizado muito perto da Câmara Municipal. Alguns anos depois da sua destruição, seu lugar no tráfico de drogas, na prostituição e na violência foi ocupado pelo “El Bronx”.
Em maio de 2016, uma operação combinada da Polícia e do Exército, formada por cerca de 2.500 pessoas, destruiu “El Bronx”, encontrando evidências de torturas, assassinatos e inclusive ritos satânicos.
“Hoje em dia sou educador do IDIPRON. Sou um exemplo para esses meninos e trabalho com jovens que acabaram de sair do Bronx”, assinalou José.
“O meu trabalho com eles é removê-los através da cultura, da música, do rap, do break dance, do grafite” e acabar com o estigma de “que todos são bandidos e viciados”.
“Com a cultura, podemos mudar os corações”, sublinha.
José, seus colegas e alunos do IDIPRON cantaram “Bienvenido Papa” (Bem-vindo Papa) no final da cerimônia em frente à Nunciatura.
“Nós dançamos com a música, contamos a história de algo ruim que aconteceu conosco”, assinala, mas a música destaca a importância da “luz que nos deu esperança” com o Papa Francisco, e “o quanto foi importante o que ele fez conosco, com a Colômbia, de vir de tão longe a nos trazer uma mensagem de esperança”.
“No IDIPRON, somos facilitadores, multiplicadores desta paz que traz aos nossos corações”, afirmou.
Para José, a experiência de participar da cerimônia de recepção ao Papa Francisco foi “nascer de novo”.
“É colocar-se diante da maior autoridade católica. E estar diante dele demonstra que a mudança, que o trabalho que Javier de Nicoló fez comigo foi alcançado. Esses jovens tiveram o privilégio de estar aqui”, sublinha.
“Agradeço todos aqueles que deram o seu voto de confiança para que esses jovens que já estiveram no mundo da delinquência sejam hoje um exemplo para aqueles que continuam nas ruas, que não quiseram seguir o caminho sem armas, de alimentar o seu coração com a fé”.
“338 Bonilla”, mais de uma década e meia depois de ter abandonado as ruas e as drogas, também têm uma mensagem para aqueles que permanecem no mundo da violência.
“A única mensagem é viver para servir, esta é a hora. Não permita que a rua roube o sorriso que você deve desfrutar com a tua família”, expressou.
“É hora de entregar as armas, é hora de deixar a rua, que não permita que o vício destrua teu coração, e muito menos destrua a tua família”, incentiva.
“Deus está conosco, é hora de dar o primeiro passo”.
Depois de cair nas garras das gangues há 18 anos, José conheceu o Pe. Javier de Nicolò e o IDIPRON. Lá, assinalou, “o tratamento conosco foi o tratamento do amor, da ‘terapia do abraço’, da cultura, do reencontro familiar”.
“Então, durante os 9 anos que permaneci lá, consegui me formar, mudar tudo isso, educar-me e ser uma pessoa melhor. Consegui ser um educador, consegui começar a minha carreira como músico, como estudante e como professor”.
“Hoje eu trabalho para o IDIPRON como um facilitador social, mostrando a esses jovens que o único mal que permanecerá é a cicatriz de uma gangue, porque o resto, o coração, Cristo cura, Ele cura as nossas feridas da alma”, destacou.
“Não importa o quão ruim temos sido. O perdão pode acontecer”.
Fonte: Acidigital