Entrevista Concedida para o Jornal da Arquidiocese de Florianópolis em agosto de 2010
Natural de Arroio do Meio, RS, Irmã Maria Stella teve a sua vocação despertada em tenra idade. Dos seus sete irmãos, todos tiveram iniciação à vida religiosa. Apenas um deles, embora sentisse forte o desejo de seguir a vida religiosa, foi orientado por seu formador a seguir outro caminho. Casou-se e teve dois filhos.
Três irmãos foram ordenados sacerdotes: dois Diocesanos e um Jesuíta. Outro, de nome Aloysio se tornou Religioso Jesuíta e reside na Casa de Retiros, no Morro das Pedras. Suas duas irmãs entraram na Congregação das Irmãs da Divina Providência. Em 1960, faleceu o Pai. Um ano depois, sua mãe também ficou Religiosa, tendo a filha mais velha como mestra.
Na entrevista que segue, Irmã Maria Stella conta como foi despertada a sua vocação, a da sua família, do que é preciso fazer para aumentar o número de vocações e de como é a vida no Carmelo.
Jornal da Arquidiocese – Como foi despertada a sua vocação para a vida religiosa?
Irmã Maria Stella –
Desde criança desejei ser religiosa. Creio que a vocação me foi infundida no Batismo.
JA – Por que escolheu a Ordem das Irmãs Carmelitas?
Irmã Maria Stella –
A leitura da vida de Santa Teresinha do Menino Jesus me empolgou, sua espiritualidade suscitou em meu coração o desejo de trilhar o seu Pequeno Caminho da confiança e do abandono, no silêncio da clausura, buscando a Face de Deus, consagrando todo o meu ser ao serviço da S. Mãe Igreja, pela oração e renúncia contínua, pelo aumento e santificação dos Sacerdotes, religiosos e religiosas.
JA – A senhora é de uma família de oito irmãos e todos foram chamados a vida consagrada. Como se deu essa bênção?
Irmã Maria Stella –
Como se deu, não sei. Isto só Deus sabe. O que posso dizer é o seguinte: Quando meus pais tinham três filhos, o mais velho com quatro anos e meio, um sacerdote consagrou oficialmente a família ao Sagrado Coração de Jesus (SCJ). Mamãe sempre nos dizia que consagrou também todos os que ainda viriam, assim que os 5 que vieram depois, já antes de existirem, estavam consagrados ao Coração de Jesus. Desde 1922, na primeira sexta-feira do mês, Mamãe e os filhos a cavalo ou a pé, íamos participar da Santa Missa e fazer a Comunhão Reparadora. À noite, todos nos reunimos, tendo à frente Papai, que renovava a consagração ao SCJ. Lembro muito bem com que unção Papai rezava e como tomou a sério a consagração da família ao S. Coração de Jesus. Aos domingos e festas era sagrado para nós a participação da Santa Missa. Confessávamos regularmente e sempre que podíamos ir à Santa Missa, comungávamos. Todas as noites rezávamos o terço e outras orações a Nossa Senhora, a São José, ao Anjo da Guarda. Antes e depois das refeições, todos juntos rezávamos as orações da bênção e de ação de graças. Mamãe tinha muito empenho para nós estudarmos bem o catecismo e prestássemos muita atenção ao sermão na Missa e em casa, nos fazia repetir o que guardamos. Ensinava-nos a não conversar na Igreja, que é a Casa de Deus. Ali Jesus está presente no Sacrário para nós conversarmos com Ele. Dizia-nos para, no momento da Elevação da Hóstia e do Cálice consagrados, pedir a Jesus que nos fizesse conhecer e seguir a vocação para a qual nos criou. Nosso querido Pároco, Monsenhor Jacó Seger, nos visitava frequentemente, conversando sobre a grande graça de os pais darem um filho para o altar, como sacerdote, etc. Era grande amigo da família. E assim, um após outro, sentiram-se motivados para se consagrarem a Deus. Os pais sempre deixaram liberdade para escolher o estado de vida e diziam: “Se querem, podem seguir. Deus vai cuidar de nós!” (dos pais). Certo dia, estando toda a família reunida, Papai falou com muita unção e emoção o seguinte: “Não penseis que estas graças vem de nós. Já nossos antepassados com sua profunda fé, orações e vida exemplar influíram poderosamente para que Deus agisse assim em nossa família. Tudo é dom de Deus. A nós convém agradecer-Lhe, louvá-Lo e servi-Lo de todo o coração! Observação: Papai faleceu em 1960. Um ano após, Mamãe ingressou na Congregação das Irmãs da Divina Providência, tendo por Mestra a própria filha. Viveu 18 anos como Religiosa e dizia que não trocaria sua sorte por nenhuma outra. Faleceu com 86 anos na paz do Senhor.
JA – No dia 15 de agosto, a senhora estará celebrando 60 anos de Vida Consagrada. Como é ter dedicado a maior parte de sua vida à Igreja?
Irmã Maria Stella –
“No Coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o AMOR!” – palavras de Santa Teresinha, concretizadas em sua vida de oração e doação constante nas pequenas coisas de cada dia. Tingia as pequenas coisas no precioso Sangue de Jesus e lhas oferecia com grande amor, pela salvação das almas, pela santificação da Santa Mãe Igreja, especialmente pela santificação dos Sacerdotes. O amor é a essência da vida. Para alcançar este puro amor é necessário sair de si mesma, dar-se sem medida, conservar no coração a presença de Deus, fazer de sua vida uma oblação plena, na obediência, na pobreza e sobretudo no amor esponsal a Jesus, em favor dos irmãos. É este amor a Jesus, que nos impulsiona para uma transformação sempre mais profunda do nosso ser, para alcançar que diminuamos e que Cristo viva em nós. É uma caminhada de fé e esperança, que se consumam no amor. É um morrer a si mesmo para ressuscitar em Cristo!
JA – Percebe-se que cada vez é menor o número de vocações femininas. O que é preciso fazer para despertar nos jovens o interesse pela vida consagrada?
Irmã Maria Stella –
O exemplo cristão dos pais: Esclarecê-los desde criança sobre os verdadeiros valores, que permanecem para a vida eterna. Ensiná-los a viver de fé e indicar-lhes o caminho certo para a vida eterna. Conduzi-los a Jesus, o verdadeiro Amigo e Mestre, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Fazê-los descobrir na sua consciência, quanto é feliz quem procura observar os mandamentos de Deus e quanto é infeliz quem segue os seus caprichos. Conduzi-los a Maria. Como Mãe, ela os orienta e conduz.
JA – O Carmelo, pela sua característica de clausura, é relativamente pouco conhecido. Fale-nos como é o carisma das Irmãs Carmelitas?
Irmã Maria Stella –
Somos uma família religiosa consagrada à Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora do Carmo. Buscamos viver na presença de Deus. Nossa vocação é um dom do Espírito Santo, que nos convida a viver em amizade com Cristo. Com Maria, nossa Mãe, procuramos aprender como fazer de Jesus o centro de nossa vida. Vivemos em uma família que busca a comunhão fraterna. Valorizamos o silêncio, porque queremos escutar a voz de Deus. Damos um espaço privilegiado á oração em benefício de toda a humanidade: Lá onde não chegam nossos pés, chega nossa oração. A Santa Missa é o Centro de nossa vida. Trabalhamos para nosso sustento em pintura, bordado, costura. Cultivamos hortaliças e flores. Com simplicidade e alegria nos comunicamos nas duas horas de recreação. Nosso objetivo é alcançar uma comunhão de vida com Jesus. Nossa Santa Madre, Teresa de Jesus, diz que o Carmelo é um céu, para quem se contenta de contentar a Deus só”.