“Todo aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado”

O Evangelho nos oferece hoje também uma visão da nossa vida cristã de dentro, do ponto de vista da oração. Depois de nos lembrar Jesus que temos “que é necessário orar sempre, sem desanimar”, hoje nos garante a eficácia desta oração como autêntico encontro com o verdadeiro Deus que “nos justifica”, nos redime, nos salva, reconstrói interiormente. Da palavra de Jesus, podemos ver a oração de dentro, do lado de Deus. Assim, no domingo passado nos lembrou que o Pai está atento a nós, que nos ama, que quer que estejamos com Ele sem desanimar e que não é Deus que não ouve, mas nós que não insistimos o suficiente, que nos desanimamos e cansamos. Hoje nos faz ver quem é aquele que realmente se conecta com a graça e o amor de Deus: não aquele que se exalta, que faz diante de Deus a lista de seus méritos, qualidades e boas obras, mas quem se “humilha”, o humilde, aquele que se reconhece diante de Deus simplesmente como quem é. Isso se conecta com a primeira bem-aventurança: “bem-aventurados os pobres, porque deles é o reino de Deus”, na versão de Lucas e que Mateus esclarece afirmando que são bem-aventurados os “pobres no espírito”, aqueles que sabem e reconhecem, vitalmente, que são pobres, qual é a sua verdade diante de Deus, a vida e os outros. A parábola de Jesus é dirigida a “alguns que confiavam em si mesmos para se considerarem justos e desprezavam os outros” e mostra as diferentes atitudes de um publicano e um fariseu enquanto oram como exemplos típicos, e como sempre, um pouco exagerados para deixar um ensinamento claro para aqueles que ouvimos. Podemos ver que cada um se mostra como é ou acredita ser e que há uma atitude, a do publicano, que serve para que Deus o justifique, e outra que não, a do fariseu porque não reconhece sua verdade e, além disso, despreza o outro em função de sua pretendida “justiça”. Jesus chama essa atitude do publicano de “humildade”, na linha da pobreza evangélica, como a de quem conhece sua realidade onde sabe que não pode escondê-la e busca assim uma relação pessoal com Deus porque sabe que precisa de seu perdão, diríamos que se “deixa justificar” por Deus, julgar e justificar por continuar a metáfora judicial. O fariseu, por outro lado, “justifica” a si mesmo, coloca diante de Deus, como um escudo, suas obras justas e também não é que ele mente, mas engana a si mesmo porque tudo o que ele faz não justifica porque ele o faz, mas porque, ao fazê-lo, ele realmente se abre a Deus cumprindo sua vontade. Agora, que o publicano saia de lá “justificado” não significa que Deus aprove sua vida como ela é, mas o contrário: que o perdoou porque reconheceu sua falta de justiça e que agora espera sua conversão, sua mudança de vida, com a reparação das vítimas incluída, se houver, como no caso de Zaqueu (cf. Lc 19,1-9). Esta relação entre o conhecimento próprio é como o coração de toda a tradição espiritual: o verdadeiro encontro com Deus, a comunhão progressiva com Ele se baseia na humildade, no “andar na verdade”, segundo Santa Teresa; ela também dizia que a humildade é a Dama do jogo do xadrez da vida e do espírito: é ela que acaba conquistando o coração do rei. Também São João da Cruz afirma que Deus pode agir dentro de nós e nos mudar de verdade graças ao fato de nos tornarmos conscientes de nossa miséria, pecado, etc. Isso acontece porque quando a alma recebe “esta luz divina (…) com ela não pode ver a alma primeiro, mas o que tem mais perto de si, ou melhor dizer, em si, que são suas trevas e misérias, que já vê pela misericórdia de Deus, e antes as via, porque não dava nela esta luz sobrenatural” (2N 13,10). E por isso o publicano “desceu para casa justificado”, porque reconheceu sua miséria e o perdão de Deus e a oportunidade de viver uma nova vida. E é que no caminho da vida e do espírito é como uma escala onde “descer é subir, e subir é descer”, pois as “mesmas comunicações que [Deus] faz à alma, que a levanta em Deus, a humilham em si mesma”.

 

fonte: https://ocdiberica.com/evangelio-dominical/todo-el-que-se-enaltece-sera-humillado-y-el-que-se-humilla-sera-enaltecido-3/