Conheça uma belíssima reflexão de Santo Afonso sobre a Assunção da Virgem Maria, a sua triunfal entrada no Reino dos Céus.
Santo Afonso Maria de Ligório, no seu clássico livro “Glórias de Maria”, apresenta a nós uma belíssima e inspirada reflexão sobre a o mistério da Assunção da Santíssima Virgem Maria aos Céus. A Mãe de Deus foi recebida na glória celeste, de corpo e alma, pela Santíssima Trindade, por todos os anjos e santos, por todos os patriarcas e profetas, com grande júbilo, porque ela foi a escolhida para sentar-se a direita de seu Filho Jesus Cristo (cf. Mc 10, 40).
Desde que Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito carne, completou a obra da Salvação da humanidade, com a sua paixão, morte, e ressurreição, os anjos desejavam ardentemente que Ele estivesse de corpo e alma no Reino dos Céus. Por isso, em suas preces, repetiam incessantemente as palavras do rei Davi: “Levantai-vos, Senhor, para o vosso descanso, vós e a arca de vossa santificação” (Sl 141, 8). Segundo São Bernardo, os anjos diziam também: “Eia, Senhor, já que remistes os homens, vinde habitar conosco em vosso reino. Conduzi também convosco a arca viva de vossa santificação, isto é, vossa Mãe, a qual santificastes habitando em seu seio”[1].
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Jesus Cristo e a gloriosa Assunção da Virgem Maria
Depois de Sua Ascensão aos Céus, nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, quis finalmente atender o desejo de toda a corte celeste, chamando sua Mãe, Maria Santíssima, à glória do paraíso celeste. O Senhor ordenou, no Antigo Testamento, que a Arca da Aliança fosse introduzida com grande pompa na cidade de Davi, a Jerusalém terrestre, e assim foi feito: “O rei e todos os israelitas conduziram a arca do Senhor, soltando gritos de alegria e tocando a trombeta” (2 Sm 6, 15). Jesus Cristo ordenou muito mais nobre e gloriosamente que sua Mãe, a Virgem Maria, a Arca da Nova Aliança, entrasse na Jerusalém celeste.
O profeta Elias foi levado aos Céus num carro de fogo, com cavalos de fogo (cf. 2 Rs 2, 11). Esta passagem é interpretada no sentido de que um grupo de anjos veio à Terra para buscar Elias. Entretanto, para conduzir a Santíssima Virgem aos Céus, não bastou um grupo de anjos. O próprio Filho de Deus, o Rei da glória, veio acompanhar sua Mãe Santíssima, com a corte celeste. São Bernardino de Sena concorda com a opinião de que, para honrar o triunfo de Nossa Senhora, o próprio Jesus Cristo veio do paraíso celeste para encontrá-la e acompanhá-la no mistério da Assunção.
O Salvador dos homens quis subir aos Céus antes da Mãe de Deus, não só para preparar-lhe o trono (cf. Jo 14, 2), como fez o rei Davi para sua mãe Betsabé (cf. 1 Rs 2, 19), mas também para tornar mais gloriosa a sua entrada na glória celeste, pela Sua presença e pelo luminoso cortejo dos espíritos bem-aventurados O acompanharam. De certa maneira, a Assunção de Santíssima Virgem foi mais gloriosa que a Ascensão de Jesus Cristo. Pois, para encontrar o Redentor do mundo, vieram apenas os anjos. Mas, enquanto nossa Senhora subia à glória dos Céus, veio ao seu encontro e acompanhou-a o próprio Jesus Cristo, Senhor da glória, da companhia dos anjos e dos santos. A este respeito, o abade Guerrico atribui ao Filho de Deus estas palavras: “Para glorificar meu Pai desci do céu à terra; mas depois, para honrar minha Mãe, subi de novo ao céu, a fim de lhe sair ao encontro e acompanhá-la ao paraíso”[2].
Se no mistério da Anunciação, a Virgem de Nazaré acolheu o Filho do Altíssimo na Terra (cf. Lc 1, 32), no mistério da Assunção, Ele desceu para encontrar sua Mãe, consolá-la e levá-la consigo ao Céu: “Levanta-te, minha amiga, vem, formosa minha. Eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas” (Ct 2, 10-11). Vamos, minha Mãe tão bela e pura, deixa este vale de lágrimas, onde tens sofrido tanto por Meu amor. “Vem do Líbano, esposa minha, vem do Líbano” (cf. Ct 4, 8) e serás coroada. Vem, de corpo e alma, gozar no Céu o prêmio de sua santa vida na Terra. Se padeces muito neste mundo, maior será a glória que te darei, como Rainha do universo.
Eis que a Virgem Maria já deixa a Terra e vêm à sua memória as muitas graças que aqui recebeu do Altíssimo. Por isso, ela olha para nós com afeto e compaixão recordando-se dos pobres que deixa expostos a tantas misérias e a tantos perigos neste mundo. Seu Filho Jesus lhe estende a mão, e a santa Mãe já se eleva no ar, já ultrapassa as nuvens e os limites desta Terra e chega, enfim, às portas do Reino dos Céus.
Nossa Senhora e o júbilo dos santos anjos
Quando um monarca toma posse de um reino, não passa pelas portas da cidade como as pessoas comuns. As portas são retiradas completamente para que ele entre triunfante. Por isso, quando Jesus Cristo, Deus feito homem, entrou na glória do Céu, cantaram os anjos: “Levantai, ó portas, os vossos dintéis! Levantai-vos, ó pórticos antigos, para que entre o Rei da glória!” (Sl 23, 7). Agora que a Santíssima Virgem tomará posse do Reino dos Céus, os anjos repetem a mesma exclamação.
Os anjos do cortejo gritam aos outros, que estão dentro: príncipes do Céu, depressa, levantai, tirai as portas, porque entrará a Rainha da glória! Ao entrar na pátria celeste, os anjos veem a Virgem Maria tão bela e gloriosa, que perguntam aos anjos que chegaram de fora com ela: “Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu bem-amado?” (Ct 8, 5). Quem é esta criatura tão formosa, que vem do deserto da Terra, lugar de espinhos e abrolhos? Vem tão pura e rica de virtudes, com o seu amado Filho, que se digna Ele mesmo acompanhá-la com tanta honra? Quem é? A tantas perguntas cheias admiração, respondem os anjos que a acompanham: Esta é a Mãe do nosso Rei; é a bendita entre as mulheres (cf. Lc 1, 42), a “cheia de graça” (Lc 1, 28), a Santa dos santos, a amada de Deus, a Virgem Imaculada, a mais formosa de todas as criaturas.
Então, irrompem imediatamente todos os anjos do Céu com hinos de louvor e de júbilo, bendizendo a Santíssima Virgem com mais razão que os hebreus a Judite: “Tu és a glória de Jerusalém; tu és a alegria de Israel, tu és a honra de nosso povo” (Jt 15, 10). À semelhança do povo da Antiga Aliança, os anjos dizem palavras de grande júbilo a Rainha dos Céus: “Ah! Senhora, vós sois a glória do paraíso, a alegria de nossa pátria, a honra de todos nós! Eis o vosso reino, eis-nos todos aqui, vossos vassalos, prontos a obedecer-vos!”[3]
Ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “Augusta Rainha dos céus”:
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A Santíssima Virgem e as almas bem-aventuradas
Todos os santos que estavam na glória celeste vieram dar-lhe as boas-vindas, e saudá-la como sua Rainha e Senhora.
Primeiramente vieram as santas virgens: “viram-na as filhas e chamaram-na bem-aventurada” (Ct 6, 9). Nós, disseram as virgens, ó belíssima Senhora, somos também rainhas deste Reino, mas vós sois a Rainha nossa. Fostes vós a primeira filha da Igreja a dar-nos o exemplo de consagrar a virgindade ao Altíssimo. Por isso, vos louvamos e damos graças, concluíram as virgens.
Em seguida, os santos mártires foram ao encontro de Nossa Senhora para saudá-la como sua Rainha. Pois, com sua grande constância, nas dores infligidas pela espada que transpassou seu coração de Mãe na paixão de seu Filho (cf. Lc 2, 35), ensinou-lhes e também alcançou, com seus merecimentos, a fortaleza para testemunhar a fé com a vida.
São Tiago, o único dos apóstolos que já se encontrava na Jerusalém celeste, foi também ao encontro da Rainha dos Apóstolos, agradecer-lhe em nome de todos os apóstolos pelo conforto e auxílio que lhes deu enquanto estava na Terra.
Os profetas também se dirigiram a Virgem Santíssima, saudaram-na e disseram: Ah! Senhora, vós sois aquela que nossas profecias figuraram.
Os santos patriarcas igualmente foram ao encontro da Mãe de Deus e lhe disseram: Ó Virgem Maria, vós fostes a nossa esperança, tanto e por tão longo tempo fostes por nós suspirada.
Entre aqueles que saudaram a Virgem Maria com maior afeto, foram ao seu encontro agradecer-lhe os nossos primeiros pais, Adão e Eva, que lhe disseram: Ah, Filha amada, vós reparastes o dano feito por nós a toda a humanidade (cf. Gn 3, 1-24); vós alcançastes ao mundo aquela bênção que perdemos por nossa culpa; por vós somos salvos. Por isso, para sempre sejais bendita! (cf. Lc 1, 48).
Depois, São Simeão foi beijar os pés da Mãe de Deus e recordou-lhe com júbilo aquele dia em que recebeu das suas mãos virginais o Menino Jesus (cf. Lc 2, 25-35).
São Zacarias e Santa Isabel foram também ao encontro da Santíssima Virgem e lhe agradeceram aquela amorosa visita, que com tanta humildade e caridade lhes fizera em sua casa, e pela qual receberam tantos tesouros de graças (cf. Lc 1, 39-56). São João Batista, com maior amor, foi dar graças a Mãe de Deus por tê-lo santificado ainda no ventre de sua mãe, por meio da sua saudação (cf. Lc 1, 44).
O que devem ter dito Joaquim e Ana, quando saudaram sua diletíssima Filha? Oh! Deus, com que ternura a deveriam abençoar dizendo: Filha dileta, que ventura foi a nossa de ter-vos como filha! Eis que agora és a nossa Rainha, porque és Mãe de nosso Rei. Sendo assim, como Rainha, nós te saudamos e veneramos.
Mas, quem poderá nos dizer com que afeto o seu caríssimo esposo São José foi até a Santíssima Virgem para saudá-la? Quem poderá descrever-nos o júbilo que experimentou o Santo Patriarca ao ver sua Esposa chegar ao Reino dos Céus, com tanto triunfo e aclamada Rainha de todo o paraíso? Com que ternura deve ter se dirigido a Virgem Santíssima, de quem foi tão zeloso guardião: Ah! Senhora e esposa minha! Quando poderei agradecer o quanto devo ao nosso Deus, por ter-me dado a vós por esposa e que sois a Sua verdadeira Mãe? Por vossa causa, mereci na Terra ver a infância do Filho de Deus, tê-Lo tantas vezes nos braços e d’Ele receber graças especiais. Sejam sempre benditos os momentos que gastei na vida a servir Jesus Cristo e a vós, minha santa Esposa! Eis o nosso Jesus, consolemo-nos já que não O vemos mais deitado numa manjedoura, sobre palhas, como nós O vimos nascer em Belém (cf. Lc 2, 7); já não vive pobre e desprezado, como outrora viveu conosco em Nazaré (cf. Lc 2, 51); já não está pregado num patíbulo infame (cf. Lc 23, 33), no qual morreu pela salvação do mundo em Jerusalém. Mas, agora Ele está sentado à direita do Pai, qual Rei e Senhor do Céu e da Terra. E eis que nós, Rainha minha, não nos separaremos mais dos seus santos pés, a louvá-Lo e amá-Lo eternamente.
Depois, saudaram-na todos os anjos do Céu. A todos, a excelsa Rainha agradeceu a assistência que lhe prestaram na Terra. Primeiramente, o arcanjo São Gabriel, o feliz mensageiro de sua grandiosa ventura, que anunciou sua escolha para ser Mãe de Deus (cf. Lc 1, 26-38), recebe os agradecimentos. A seguir, Nossa Senhora agradece ao restante da corte celeste.
A Virgem Maria diante da Santíssima Trindade
Finalmente, de joelhos, a humilde e santa Virgem Maria adora a Santíssima Trindade e precipita-se no conhecimento do seu nada. Ela agradece o Altíssimo por todas as graças, que por Sua infinita bondade lhe concedeu, especialmente a graça de tê-la feito a Mãe do Verbo de Deus encarnado (cf. Lc 1, 26-36). Imaginemos e tentemos compreender, se pudermos, com que amor a Santíssima Trindade a abençoou! “Quem nos descreverá o afável e afetuoso acolhimento que fez o Pai Eterno à sua Filha, o Filho à sua Mãe, o Espírito Santo à sua Esposa! O Pai a coroa, participando-lhe o seu poder, o Filho a sabedoria, o Espírito Santo o amor”[4]. Por fim, as três Pessoas divinas, concedendo-lhe o trono à direita de seu Filho Jesus Cristo, a declaram Rainha do Universo, dos Céus e da terra. Então, os anjos também ordenam entre si e a todas as criaturas, que reconheçam a Virgem Maria por sua Rainha e Senhora e, como tal, sirvam-na e a ela obedeçam.
Oração de Santo Afonso Maria de Ligório a Rainha do Céu
Ó grande, excelsa e gloriosíssima Senhora, prostrados aos pés do vosso trono, nós vos rendemos nossas homenagens, daqui deste vale de lágrimas . Nós nos comprazemos na glória imensa, de que vos enriqueceu o Senhor. Agora que já reinais como Rainha do céu e da terra, ah! não nos esqueçais, pobres servos vossos. Não vos dedigneis, desse excelso trono em que reinais, de volver vossos piedosos olhos a nós miseráveis. Vós, quanto mais vizinha estais da fonte das graças, tanto mais nos podeis delas prover. No céu, descobris melhor as nossas misérias, portanto é preciso que tenhais maior compaixão de nós e mais nos socorrais. Fazei que sejamos na terra vossos fiéis servos, para podermos mais tarde bendizer-vos no paraíso.
Neste dia em que fostes feita Rainha do universo, nós nos queremos consagrar ao vosso serviço. No meio de vossa grande alegria, consolai-nos também, aceitando-nos hoje por vossos vassalos. Sois vós a nossa Mãe. Ah! Mãe suavíssima, Mãe amabilíssima, vossos altares estão rodeados de muita gente que vos pede: uns vos pedem a cura de suas enfermidades, outros o vosso auxílio em suas necessidades: outros, uma boa colheita; outros, a vitória em qualquer demanda. Nós, porém, vos pedimos graças mais agradáveis ao vosso coração.
Alcançai-nos o ser humildes, desapegados da terra, e resignados à divina vontade. Impetrai-nos o santo amor de Deus, a boa morte, o paraíso. Senhora, mudai-nos, mudai-nos de pecadores em santos. Fazei este milagre, que vos dará mais honra que se désseis a vista a mil cegos e ressuscitásseis mil mortos. Vós sois tão poderosa junto de Deus. Basta dizer que sois sua Mãe, a mais querida, cheia da sua graça: que vos poderá ele recusar? Ó Rainha formosíssima, nós não pretendemos ver-vos na terra, mas queremos ir ver-vos no paraíso. A vós compete alcançar-nos esta graça. Assim o esperamos decerto. Amém, amém[5].
Nossa Senhora da Assunção, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova