O Carmelo surgiu em plena Idade Média, época de renovação da Igreja e de busca da mais pura dimensão evangélica de vida religiosa. As Cruzadas e a conquista de Jerusalém, em 1099, abrem a rota das grandes comunicações entre a Europa e o Oriente. Estamos no fim do século XII. A humanidade vive a experiência de grandes alterações sociais e espirituais. Igrejas e mosteiros são reedificados. Príncipes e fiéis fazem doações financeiras generosas. Homens e mulheres, inflamados pelo amor ao serviço divino, procuram novos rumos de vida. Atraídos pela fama dos Lugares Santos, afluem à Palestina, sob influência européia, peregrinos das mais diversas partes do mundo. Uns vão para o deserto, outros para as colinas, todos imbuídos do mesmo espírito de penitência e oração. A vida contemplativa e eremítica é escolhida, com singular empenho. Assim, também, chegam ao Monte Carmelo, por volta do ano 1190, os que desejam seguir o exemplo do homem santo e solitário que foi o profeta Elias.

O Carmelo Descalço no Brasil

A história do Carmelo Descalço em terras brasileiras encontra-se ligada à pessoa da Sra. Jacinta Ayres, filha de José Rodrigues Ayres, natural do Porto, e Maria de Lemos Pereira, do Rio de Janeiro. Nasceu aos 15 de outubro de 1715, festa de Santa Teresa de Jesus. Jacinta e sua irmã Francisca sentiram-se chamadas por Deus para a Vida Religiosa. Não tendo conventos no Brasil, seu padrasto requereu a licença de D. João V, rei de Portugal de irem a Lisboa, e ali escolherem o Convento e a Ordem que mais lhes agradasse. Quando tudo estava pronto, conversando com sua irmã sobre a longa viagem, Jacinta foi repentinamente acometida de forte acidente, caindo no chão e deslocando um quadril. Ficou impossibilitada de viajar.

Recobrando a saúde continuou a acalentar seu sonho. Eis que, um dia, voltando da Ermida do Desterro, onde costumava rezar, teve a inspiração de escolher naqueles arredores um lugar solitário, para ali com sua irmã e mais jovens que quisessem, viver segundo uma regra. Escolheu a Chácara da Bica, lugar deserto e solitário. Jacinta passou a viver numa casa que havia ali, depois de consertá-la. Sua irmã seguiu-a. Passaram a chamar-se Jacinta de São José e Francisca de Jesus Maria. A pequena casa ficou transformada em convento. Numa pequena sala, que lhes servia de coro, faziam a oração mental e rezavam o Ofício de Nossa Senhora.

Jacinta nunca tinha visto nem freira, nem convento, no entanto procedia como se tudo isto lhe fosse familiar. Deus a havia escolhido para ser a primeira discípula de Santa Teresa na América do Sul. No ano seguinte a 31 de Dezembro é inaugurada a Capela que dedicaram ao Menino Deus. Acolhendo ao conselho de Frei Manoel de Jesus, carmelita, começaram a viver desde logo a Regra do Carmo e as Constituições de Santa Teresa. Contavam com o apoio de Bispo D. Frei João da Cruz, também carmelita. Passaram-se assim seis anos. Aos poucos juntaram-se a elas outras jovens da cidade. Tinham recebido do bispo a licença de usar o hábito carmelitano. Com a aprovação do novo Bispo D. Frei Antônio do Desterro e a permissão do Governador Gomes Freire de Andrade, construíram o Convento de Santa Teresa. No dia 24 de junho de 1752, Madre Jacinta e sua comunidade passaram a viver na nova casa: Convento Santa Teresa. Deste Carmelo foram fundados muitos outros Carmelos no Brasil.